Vejo nos teus olhos

a tentação do mar

 

- horizontes infinitos

onde vogam tormentas –

 

erguem-se clarões

de sonho e de luar,

em carícias subtis,

em harmonias lentas.

 

E não sei bem porquê,

eu sinto que me leva

a estranha tentação

de palavras e clamores

 

nesta viagem de retorno

e de espera

sentindo, sem cessar,

 

o perfume das flores.

 

Otília Martel (Rosa Brava) - Poeta

 

Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar (Estúdio Raposa) carregue aqui

 

 

 

Nascida de uma atitude de profunda e serena meditação, a pintura de Nela Vicente não se aprende, não nos emociona ou envolve apenas um instante, tem que ser meditada e absorvida com toda a sua musicalidade, dando generosamente tempo, todo o tempo, ao instante da sua contemplação. Envolta em subtis contrastes, medidos e pesados, esta sensibilidade minuciosa provoca-nos esta espacialidade tão emotiva e sem limites, em resultados poéticos e musicais. Tanta sede de poesia e de pureza, necessita por isso de uma arquitectura íntima e secreta. A procura de uma tal pureza luminosa, tem a necessidade de um saber maduramente experimentado, para tão delicadamente acariciar as matérias e a textura da tela. Um olhar profundo no espaço longínquo da arte e na vibração do espaço. Obriga-nos a penetrar e prolongar o olhar para além do plano da tela até ao espaço ilimitado desse horizonte fluído e infindável, permitindo-nos adivinhar a sua substância e o seu sentido.

Rui de Barros - Professor de pintura do I.A.P.

 

 

 

 

A pintura de Nela Vicente emerge de um espaço indefinido e misterioso; onde o térreo perde a sua cor natural (os castanhos e os ocres) para adoptar um colorido fantasista; e onde o horizonte se esbate e apela ao infinito. É nessa "Substância Mater", nessa terra imaculada, que as plantas surgem como afirmação da Vida, incorporando em suas formas o recorte, mais ou menos nítido, de corpos femininos, ou até, a inserção de rostos femininos entre os elementos vegetais. Deste modo, todo o ambiente da paisagem é completado e até ampliado, pela presença antropo-bro-morfológica das plantas, remetendo o imaginário pictórico para um campo onírico e consequentemente para a escola surrealista. Mas estes quadros possuem mais do que uma interpretação literal, ou, alegórico-psicanalista entre outras. Eles encerram uma técnica que, vai desde a ingenuidade pictórica dos rostos, até á solidez da representação dos recipientes esféricos, passando pela variedade cromática da paleta usada nas folhas/corpos onde a sensualidade se evidência através da relação cor/forma e que faz destes trabalhos uma pintura do feminino, no feminino…"

João Miguel Pais - Professor de Artes Plásticas e Artista Plástico

 

 

 

En la obra de Nela Vicente existe un dificil combinacion. Por un lado la explosion colorista, y por el otro la fantasia poetica de su obra.

Nela Vicente convierte cada obra en un paseo por algun sueño, un sueño que irremediablemente hemos tenido alguna vez. De repente nos vemos inmersos en el y nos paseamos por el interior de sus hojas, de sus figuras y de sus casas.

Una pintura limpia con trasfondo infantil e inocente convierte la obra de Nela Vicente en la explosion de una caja de sorpresas en el cumpleaños de cualquier niño. Explosion colorista que inunda el momento de rosas palidos, verdes dificiles de combinar y rojos de tono intenso como el propio corazon de la artista.

Contemplar la obra de Nela Vicente nos traslada a lugares tan agradables, que ya casi habiamos olvidado que existian.

 

Adolfo López - 2002

Gracias por tu confianza.

 

Envolve-se com a Natureza através dos seus sentidos extra-sensoriais.

 

O seu profundo olhar mistura nas telas as folhas e as flores da criação de uma forma pictórica, umas vezes impressionista, outras surrealista.

 

Mas a corrente é dela. Ela fala com a Natureza e esta transmite-lhe toda a energia que ela canta nos seus quadros. Vale a pena passear por entre a densa folhagem florida e passar na geometria das coisas, das pessoas inventadas, no seu erotismo escondido.

 

Correia de Pinho - Poeta

 

 

Cada pintor tem o seu mundo próprio, cada pintor cria o seu próprio universo independentemente das técnicas aplicadas nas obras. Eles dão-nos um pouco de si mesmo naquilo que nos querem transmitir, pois queiram ou não uma pintura é sempre uma tentativa de comunicação, tal como os escritores nos dizem com as palavras, os pintores falam-nos com as manchas, traços e cores. Alguns dão-nos mensagens ou simplesmente imagens do seu próprio mundo imaginário ou formas de protesto e contestação de certos problemas.

Nela Vicente fala-nos da "Mãe Natureza"  que tanto preocupa o homem contemporâneo. Independentemente das técnicas aplicadas, ela dá-nos imagens ora suaves ora gritantes destes problemas que tanto nos preocupam nos dias de hoje. A sua pintura surrealizante lírica e poética é uma demonstração em como está atenta àquilo que é preservar a "Mãe Natureza".

Ernesto Neves - Artista plástico

 

Inspirado toque pintor

Magia chama de alma acesa

Expressão de música interior

Geometria de sonho e pudor

Nas telas de su realeza

 

 

Suaves melodias de cor

Nas pétalas da Mãe Natureza

Canta em cada forma o amor

Em cromias de fresco odor

Num mar de luar e beleza

Carlos Lopes - Compositor

 

 

O rosto absorve toda a tela. Por incrível que pareça, basta meio rosto para contemplar a essência desta bonita obra. A face direita, apresenta um olhar enigmático e límpido... um semblante interessante e cativante! Mas a obra é muito mais ! A face esquerda, duplamente enigmática, transmite através da sombra, de forma ligeira e subtil , um outro olhar, um outro sentir, a partilha de dois rostos num só mesmo. Sem me alongar, emergindo um pouco em toda a tela, digo: Sinto o mar e o céu, sinto o azul a planar sobre o véu. Sinto as trevas, sinto o amor...talvez até vislumbre o caminho... mas vejo muito mais! Vejo gente que caminha e sinto a queda; sinto por outro lado a dança, o espasmo, o erotismo! Vejo especialmente o equilíbrio num contraste perfeito!

Deixando muito por dizer, quero salientar essencialmente: a forma de retrato, a Mulher na figura!... Perdoa-me porventura o nome que lhe pus...

MANUELA        DE JESUS !

Luis Miguel Bastos - Poeta

Música de C. Lopes

Última actualização Dez/2006